Em carta, Ronaldo critica processo eleitoral da CBF e pede supervisão da Fifa
Por João Pedro Fragoso — Rio de Janeiro
Empresário quer que pleito tenha data definida com ‘pelo menos um mês de antecedência’
Ronaldo Fenômeno — Foto: Daniel Ramalho/AFP
O ex-jogador Ronaldo, que em dezembro anunciou seu interesse em concorrer à presidência da CBF, segue se movimentando nos bastidores de olho no próximo pleito, ainda sem data definida para ocorrer. Em carta divulgada nesta segunda-feira, ele criticou o processo eleitoral da entidade e pediu que Fifa e Conmebol supervisionem a votação.
No documento, Ronaldo solicitou também que o processo eleitoral — que será iniciado pelo atual presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e tem prazo estatutário de um ano a partir do próximo mês de março para acontecer — tenha sua data definida com pelo menos um mês de antecedência. O ex-atacante deseja que a Fifa e a Conmebol participem para garantir “o tratamento isonômico das partes e a preservação da estabilidade institucional”.
Para conseguir se candidatar à presidência da CBF, Ronaldo precisará do apoio formal de quatro das 26 federações estaduais e a do Distrito Federal, e de quatro clubes das Séries A e B. Ednaldo tentará a reeleição.
Além do apoio de federações e clubes, Ronaldo também terá que quebrar um paradigma no que diz respeito as eleições da CBF. Desde 1989, na primeira eleição de Ricardo Teixeira, a entidade nunca teve um pleito com mais de um candidato. Os bastidores dos processos eleitorais anteriores mostram que as federações costumam optar por apoiar a situação.
O processo eleitoral da CBF é baseado em um sistema de pontos. Os votos das federações estaduais têm peso 3 (totalizando 81 pontos), os votos dos clubes da Série A têm peso 2 (somando 40 pontos), e os votos dos clubes da Série B têm peso 1 (somando 20 pontos). Ou seja, se 24 das 27 federações estaduais decidirem apoiar um candidato, ele atingiria 72 pontos, e a eleição estaria definida, já que a soma de todos os outros votos não ultrapassaria 69 pontos.
Desde dezembro, quando anunciou que tentaria a candidatura, Ronaldo aposta no diálogo “cara a cara” com os presidentes das federações. Um dos principais objetivos do ex-atacante é mudar a imagem da CBF e da própria seleção brasileira.
Leia a carta de Ronaldo na íntegra:
Carta à presidência das entidades CBF, FIFA e CONMEBOL, das Federações Estaduais e dos clubes das Séries A e B
Prezados Senhores,
Conforme comuniquei publicamente, pretendo me candidatar à presidência da CBF no próximo pleito. Preocupa-me, no entanto, a falta de transparência e segurança jurídica no processo eleitoral, que pode comprometer a imparcialidade e a legitimidade das eleições.
É notório que, com o estatuto vigente, o presidente em exercício tem controle absoluto de todo o processo – o que, por si só, nos distancia das condições de concorrência leal e isonômica. Além de não contribuir para a integridade do pleito, o modelo dificulta (quiçá, impede) o surgimento de candidaturas alternativas.
Ademais, a crise dos últimos anos no comando da CBF, marcada por uma série de interferências externas e disputas judiciais incompatíveis com a autonomia e grandeza da entidade, maculou sua reputação a nível mundial e colocou em risco a sua independência.
Se existe um fato incontestável nesses anos de imbróglio – que, inclusive, antecede a atual gestão – é que essa sucessão de acontecimentos gerou um sentimento coletivo de insegurança jurídica e afetou negativamente a credibilidade da confederação.
Faltam menos de 16 meses para a próxima Copa do Mundo – chegaremos a 2026 com um jejum de 24 anos sem o título – e tudo que o futebol brasileiro não precisa agora é passar por um processo eleitoral de legitimidade duvidosa. O que precisamos é de tempo para dar voz e espaço aos clubes que, unidos, são ainda mais fortes; para escutar as federações em prol de melhorias nas competições e desenvolvimento do esporte em seus estados; para que a força da visão compartilhada, no alinhamento estratégico, nos conduza à mudança.
À luz dessas preocupações, solicito que a data para as próximas eleições – cujo prazo estatutário é de um ano a partir de 23 de março de 2025 – seja definida com antecedência mínima de um mês, a fim de assegurar a organização e participação dos interessados.
Solicito ainda que o pleito seja supervisionado presencialmente pela FIFA e pela CONMEBOL, para dar mais transparência e segurança jurídica ao processo eleitoral, bem como alinhamento aos princípios internacionais de governança no futebol. Está nas mãos do colégio eleitoral a oportunidade e a responsabilidade de atender à urgência de um choque de gestão na CBF, que comece por restaurar a confiança na instituição e seja sustentável no longo prazo. Reitero minha completa disposição colaborativa para a reconstrução da credibilidade e proteção do futuro da entidade. O futebol brasileiro é patrimônio público – cabe a nós defendê-lo.