A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, decidiu pelo nome de Tim Walz, governador de Minnesota, como seu companheiro de chapa na corrida pela Casa Branca. A informação foi confirmada por fontes do Partido Democrata à veículos de imprensa americana, como CNN, New York Times, Associated Press e ABC News, antecipando o anúncio oficial da campanha. Após ter passado por duas semanas de campanha relativamente tranquilas, Kamala agora busca manter o ímpeto que impulsionou sua candidatura enquanto inicia uma nova fase da disputa. A divulgação do nome foi feita antes de sua primeira aparição pública oficial desde que foi confirmada como candidata democrata às eleições presidenciais, nesta terça-feira.
A busca pelo número 2 de Kamala não tinha sido concluída até domingo, quando ela entrevistou três finalistas – o governador de Minnesota, Tim Walz; o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, e o senador do Arizona, Mark Kelly. Segundo a CNN, a democrata ponderou sua escolha com assessores por três dias consecutivos, e uma campanha contra e a favor dos potenciais candidatos dividiu o partido. Diferentes partes interessadas apresentaram seus argumentos sobre quem seria mais elegível contra o ex-presidente Donald Trump, e qual nome seria capaz de manter a sequência positiva que a campanha tem recebido.
Uma pessoa próxima a Kamala, ouvida pelo New York Times, afirmou que ela não terminou de fazer ligações para seus principais concorrentes à vice-presidência. A campanha de Harris esperava anunciar sua escolha por volta das 10h (11h em Brasília) em uma mensagem de texto para os apoiadores, o que ainda pode acontecer, mas, dado o vazamento sobre Walz, esse cronograma pode mudar.
Walz não foi visto até agora na manhã desta terça, em meio a uma onda de atividades ao redor de sua residência em St. Paul. A presença da mídia do lado de fora da casa é muito maior do que nos dias anteriores, incluindo pelo menos cinco equipes de notícias de TV. Uma frota de veículos estaduais, incluindo SUVs pretos e sedãs pretos, está estacionada na garagem, como tem estado nos dias anteriores. Alguns dos veículos saíram ou retornaram à propriedade no início desta manhã.
Desde que o presidente Joe Biden encerrou sua candidatura à reeleição no mês passado, a vice-presidente garantiu o apoio dos democratas e avançou nas pesquisas contra Trump. Um levantamento da CBS News/YouGov divulgado no último domingo não encontrou um líder claro entre Kamala e Trump (enquanto Biden aparecia 5 pontos atrás nas pesquisas anteriores da mesma fonte). Uma média de quatro pesquisas recentes da CNN também apresentou uma disputa acirrada entre os dois, com o republicano recebendo cerca de 49% e a democrata, 47%.
A candidatura de Kamala também mobilizou doadores: na semana passada, a campanha da democrata anunciou ter arrecadado US$ 310 milhões (R$1,7 bilhão) durante o mês de julho, mais que o dobro da arrecadação de Trump, que acumulou US$ 138,7 milhões (cerca de R$ 796 milhões). Somado a isso, na última sexta-feira, o Comitê Nacional Democrata anunciou que Kamala conquistou votos suficientes para ser nomeada a candidata oficial do partido antes mesmo do término do período de votação, nesta segunda-feira.
Kamala e Walz deverão percorrer os sete estados que são considerados essenciais na batalha: depois da passagem pela Filadélfia nesta terça, ambos passarão por Wisconsin, Michigan, Carolina do Norte, Geórgia, Arizona e Nevada. Os integrantes da campanha democrata, segundo a Associated Press, estão cientes de que o entusiasmo com a candidatura de Kamala pode ser passageiro – e, por isso, têm trabalhado para capitalizar a energia agora, enquanto gerenciam as expectativas e enfatizam que a disputa contra Donald Trump está acirrada.
A campanha de Biden havia definido Arizona, Nevada, Carolina do Norte e Geórgia como seus principais alvos, mas, ainda segundo a AP, já tinha começado a perder a esperança de conquistar votos nesses locais – e, por isso, reforçou a presença em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, estados conhecidos como “muralha azul” pelo histórico de vitória do Partido Democrata. Com a entrada de Kamala na disputa, porém, campanha voltou a focar no Arizona e Nevada, vistos como os mais competitivos entre ela e Trump – ambos vencidos por Biden há quatro anos.
Quem é Tim Walz?
Com o perfil de um cara comum do Meio-Oeste americano, Walz, de 60 anos, tem origens rurais e foi treinador de futebol americano. Conhecido por políticas liberais durante seu mandato em Minnesota, ele ganhou projeção nos últimos meses por ataques ao ex-presidente Donald Trump.
Walz surgiu de um grupo de candidatos que tinham melhor reconhecimento de nome e estados de origem politicamente mais vantajosos. Embora Minnesota seja um bastião democrata, Walz pode atrair eleitores moderados e de zonas rurais do Meio-Oeste, um dos eleitorados cativos de Trump, além de servir de contraponto ao candidato a vice, JD Vance, de Ohio, outro estado da região. Como companheiro de chapa de Kamala, Walz também ajuda os democratas a angariar votos da classe trabalhadora e branco que se afastou do partido.
Divisões no partido
Doadores, grupos de interesse e rivais políticos das alas moderada e progressista do Partido Democrata buscaram indicar apoio aos seus candidatos preferidos para acompanhar Kamala na campanha. Eles se voltaram mais fortemente contra o governador Josh Shapiro, visto como o favorito, mas também contra o senador Mark Kelly, ambos acusados de serem “conservadores demais” em questões importantes. Embora alguns apoiadores tenham sinalizado que estariam confortáveis com qualquer um dos candidatos, os maiores contribuintes apresentaram divisões.
O grupo de ativistas progressistas chamado Gamechanger Salon se manifestou contra Shapiro – e incentivou seus membros a divulgar as posições dele sobre a guerra em Gaza. O debate se acirrou durante uma discussão sobre o uso do lema “Josh Genocida” para descrever Shapiro, que é judeu. Um dos organizadores pediu calma e redefiniu a troca de e-mails entre o grupo com o novo assunto: “Por que Josh Shapiro não deve ser o vice-presidente”. Algumas das mensagens também pediam que os membros apoiassem Tim Walz, favorito dos doadores mais liberais.
Uma das mensagens, escrita por Billy Wimsatt, diretor executivo de um grupo de doadores liberais conhecido como Movement Voter Project, dizia que Shapiro poderia causar uma queda na participação de eleitores progressistas que estão preocupados com a guerra no enclave palestino. Ele afirmou que há o risco de reduzir “significativamente o entusiasmo pela chapa de Kamala Harris entre jovens eleitores, eleitores árabes e muçulmanos e, até certo ponto, trabalhadores”.
Os crescentes ataques a Josh Shapiro foram repudiados por alguns membros mais moderados do Partido Democrata – e até por pessoas na mídia. Joe Scarborough, apresentador do programa “Morning Joe”, defendeu o governador nas redes sociais, onde afirmou que as recentes manifestações contra ele eram “uma mistura tóxica de antissemitismo, visões extremistas sobre Gaza e colegas invejosos que não querem ser excluídos da corrida presidencial na próxima década”.
— Acho que ela precisa escolher alguém que seja mais moderado do que ela. Acho que ela precisa escolher alguém que tenha mais experiência governamental a nível local — disse o ex-governador republicano de Nova Jersey Chris Christie no programa “This Week”, da rede americana ABC News. — Deveria ser Josh Shapiro, acho que não é uma escolha difícil — continuou ele, que é ex-aliado de Trump.
Shapiro surgiu como a escolha dos doadores pró-Israel do partido, além de contribuintes favoráveis aos negócios no Vale do Silício. No entanto, as posições centristas dele que agradam a esses grupos são as mesmas que o tornaram o menos favorito entre os doadores mais liberais.
A escolha do companheiro de chapa ajudará a moldar a chapa democrata num momento em que Kamala tenta moderar sua imagem com os eleitores, publicou a CNN. Na semana passada, sua campanha esclareceu a posição dela sobre várias questões. Ela também tem buscado enfatizar o conceito de liberdade, focando não apenas na ideia de Trump como uma ameaça à democracia, mas também na liberdade de fazer um aborto – ponto fraco do republicano – e estar seguro contra a violência armada.
Ao mesmo tempo, de acordo com a Associated Press, Trump tem tentado defini-la como uma liberal de São Francisco que é branda com o crime e que foi encarregada por Biden de proteger a fronteira como vice-presidente – mas falhou. Ele culpa Kamala e o presidente democrata igualmente pela inflação durante seu mandato, e também a atacou pessoalmente, questionando sua inteligência e sua identidade birracial, já que ela é filha de um jamaicano com uma indiana.
Kamala e Trump discutiram durante o último fim de semana sobre quando e onde debater. O republicano desistiu de um debate em 10 de setembro na ABC em favor de um debate em 4 de setembro na emissora conservadora Fox News. A campanha de Kamala diz que mantém a data original, e Trump postou nas redes sociais: “Vejo ela em 4 de setembro ou não a verei de forma alguma”. (Com New York Times).