A semana de definições das primeiras fases se foi e o Fluminense agora vive o último dia de preparação para estrear no Mundial de Clubes. Amanhã, encara o Al Ahly, do Egito, pela semifinal da competição, às 15h, no King Abdullah Sports City, em Jidá, na Arábia Saudita. Jogo que pode ser o passo inicial de um possível e esperado duelo na final entre os trabalhos altamente autorais dos técnicos Fernando Diniz e Pep Guardiola (que comanda o Manchester City) aguardado desde que o tricolor levantou a taça da Libertadores. Os citizens encaram o japonês Urawa Red Diamonds na outra semifinal, na terça-feira.
Quando Diniz, hoje técnico interino da seleção brasileira, começou a implementar seus trabalhos com destaque no futebol brasileiro, as comparações com o catalão, para muitos o melhor técnico do mundo, logo apareceram. Afinal, o brasileiro, além de apresentar uma novidade ao futebol praticado, gosta que seu time tenha a posse de bola, tendência que Pep ajudava a refundar no futebol europeu no fim dos anos 2000 e início da década seguinte, que evoluiria para uma estrutura baseada no jogo posicional, avançando no campo com base em triangulações de forma organizada.
Ter a bola tem um significado diferente para o brasileiro, dono de ideias mais “anárquicas” de jogo. Diniz aplica o que a comunidade tática internacional passou a nomear como relacionismo: uma construção de jogo baseada em superioridade numérica. Em um jogo do Fluminense, é difícil não reparar em movimentos específicos, como a triangulação entre Arias e Samuel Xavier (com normalmente um terceiro ou um quarto jogador dando opção) pela direita, quase colada à linha lateral, uma das armas para encontrar espaço e bagunçar as linhas adversárias — ou abrir campo do outro lado.
— Os dois querem controlar jogos, ter a bola, acumular passes e que os times sejam ofensivos e criem muitas chances de gol. O que difere é o como, e aí difere bastante. A base da ideia do jogo do Guardiola é estabelecer vantagens a partir das posições ocupadas pelos jogadores. A grande orientação, especialmente no momento ofensivo, é uma zona do campo. A bola vai a cada uma dessas zonas, a grosso modo. O espaço no campo é a grande referência. No time do Diniz, a grande referência é a bola. Onde está a bola, onde o time pretende que a bola vá, os jogadores se acumulam naquele setor. Então você vai ver seis, sete, oito jogadores do mesmo lado do campo — explica Carlos Eduardo Mansur, colunista do GLOBO.
Peças central nos esquemas do City e da seleção brasileira pela saída de bola com os pés, o goleiro Ederson, que atua sob orientação dos dois treinadores, corrobora:
— A posse é o que tem mais próximo do jogo, mas as estruturas são diferentes. Aqui com o Diniz, os jogadores são muito mais móveis do que no City. […] Tem que ter muita paciência para achar os espaços corretos. — explicou em entrevista ao canal “3 na Área”.
Pressão alta
Mas nem tudo separa o jogo dos dois treinadores. A pressão alta na marcação é uma característica que os une, uma tendência ao controle e à recuperação — cujos riscos, como a linha de defesa adiantada, devem ser explorados por Al Ahly e Urawa, os adversários nas semifinais que querem impedir o embate. Foi como o Crystal Palace marcou o primeiro gol ontem no empate em 2 a 2 pelo Inglês.
Os dois também são corajosos na abordagem dos defensores. No City, Guardiola praticamente uniu os papéis de laterais e zagueiros (e até volantes), que fazem de tudo: saída de bola, fechamento de linha de três defensores, progressão entre as linhas de meio-campo e recomposição nos corredores. O recém-contratado zagueiro Gvardiol atuou ontem como ala esquerdo em alguns momentos. Kyle Walker, Akanji e Aké são outros exemplos dessa ideia.
No Fluminense, Diniz dá alta liberdade aos seus laterais quando necessário. Em determinados momentos do jogo, Samuel Xavier e Marcelo atacam quase como pontas. Jogadores como o zagueiro Nino e o volante André — por vezes deslocado para a defesa — têm responsabilidades importantes na saída de bola, que trabalha com a ideia de erro mínimo.
— Se você junta oito jogadores em uma lateral e perde a bola, na Europa é gol […] Vamos ter uma prova de ouro no Mundial. Até onde esse time do Diniz é capaz de chegar, se os dois forem para a final. Para a gente comparar esse modelo de jogo tão especial com o futebol europeu — analisou o ex-lateral Filipe Luís ao podcast Charla.